segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Resenha...

Bullyng, que bicho é esse?


Esta resenha diz respeito a uma discussão sobre violência nas escolas, mais especificamente sobre o fenômeno bullyng. O campo de observação foram os alunos do 5° ao 9° ano do turno vespertino, da Escola La Salle – Brasília. Para fundamentar esse trabalho, o grupo recorreu principalmente a três importantes autores que, com autoridade, tem contribuído, na elaboração de ações preventivas e interventivas sobre a identificação e possíveis resoluções do problema: Fante (2005), Ortega Ruiz (1998) e Gianei (2003). Recorreu-se ainda, através de entrevista, à psicopedagoga, Renata Portilho, professora na escola supracitada.

A violência protagonizada pela comunidade escolar é uma realidade atual. Esse fato desafia a própria escola junto com o corpo docente e a comunidade local, a se organizar e insurgir-se ativamente contra este fenômeno, para que possa mudar a realidade do individuo, através de conteúdos programáticos e acercar-se mais dos alunos, tornando-os mais sociáveis e menos isolados. Verifica-se que hoje muitos dos adolescentes e jovens são constantemente atingidos por um tipo de violência muito comum no ambiente escolar, o fenômeno Bullying. Para o seu enfrentamento, torna-se necessário mais que sua identificação no ambiente escolar. É fundamental que se elabore ações preventivas e interventivas sobre a identificação do problema.

Segundo Fante,


“O termo Bullying é utilizado na literatura psicológica anglo-saxônica para designar um conjunto de comportamentos agressivos, repetitivos e intencionais, adotado por um ou mais indivíduos contra outras pessoas. Não existe uma motivação evidente para esse comportamento, que causa dor, angústia e sofrimento às vítimas.” (Fante, 2003, p. 27)

Quando se aborda a violência contra crianças e adolescentes e a vinculamos aos ambientes onde ela ocorre, a escola surge como um espaço ainda pouco explorado, principalmente com relação ao comportamento agressivo existente entre os próprios estudantes. A violência nas escolas é um problema social grave e complexo e, provavelmente, o tipo mais freqüente e visível da violência juvenil.O termo "Bullying" diz respeito a todos os comportamentos agressivos e anti-sociais, incluindo os conflitos interpessoais, danos ao patrimônio, atos criminosos, etc. Muitas dessas situações dependem de fatores externos, cujas intervenções podem estar além da competência e capacidade das entidades de ensino e de seus funcionários. Porém, a solução possível pode ser obtida no próprio ambiente escolar. A esse respeito, afirma Renata:


“ (...) conversamos individualmente, depois a conversa passa a ser em grupo para que haja confronto não dando espaço para mentiras. Quando isto não é suficiente, convoca-se os pais e conscientiza-os do problema, mostrando os prejuízos emocionais e psicológicos que a vítima e agressor passam, indicando um profissional da psicologia para ajudá-lo”. (...........)


Os comportamentos violentos, que causam tanta preocupação e temor, resultam da interação entre o desenvolvimento individual e os contextos sociais, como a família, a escola e a comunidade. Infelizmente, o modelo do mundo exterior é reproduzido nas escolas, fazendo com que essas instituições deixem de ser ambientes seguros, modulados pela disciplina, amizade e cooperação, e se transformem em espaço onde há violência, sofrimento e medo.


O que faz com que um aluno exerça Bullying? Muitas vezes a raiz do problema não se centra na educação. O jovem apresenta problemas que deveriam ser direcionados para a saúde mental infantil e adolescente, para a proteção social ou até judicialmente. O cerne da questão é que muitas escolas, ao contrário do que teoricamente afirma Renata, tentam resolver os problemas para os quais não estão preparadas e que não são da sua competência. Na verdade, todos os alunos são potencialmente violentos, sendo a escola sentida como uma imposição por parte da família ou do Estado. Os alunos estão contrafeitos, as aulas são para eles locais de constrangimento e de repressão de desejos. Alguns alunos conformam-se e conseguem permanecer na escola sem fazerem grandes distúrbios. Outros se revoltam, colocando em causa as normas estabelecidas, a autoridade, e insurgem-se contra os professores e colegas como ato de poder e robustez física.


Numa visão geral, a violência, é um fenômeno complexo e múltiplo. Há violência que são ocasionais outras que são permanentes, e elas dependem, como já dissemos, tanto das condições internas quanto externas da escola.Para Ortega Ruiz, (1998), violência na escola tem sido um assunto obscuro, não só pela sua difícil compreensão, como pelo fato de muitas das facetas da violência que ocorre na escola não serem bem conhecidas dos professores. A maior parte dela se passa na relação interpessoal aluno-aluno . É, contudo, um pequeno grupo de entre eles que é “responsável” pela violência que se observa em cada escola. Apesar disso, muitas crianças e adolescentes vêem-se confrontados frequentemente no seu cotidiano escolar com situações de agressividade, com as quais não sabem lidar e que, por vezes, afetam decisivamente o seu percurso escolar, o seu bem-estar e o seu processo de desenvolvimento pessoal e social.
Há que se ressaltar ainda que os problemas relacionados à violência na realidade escolar elevam-se continuamente e se apresentam com diversas roupagens. Manifestações violentas, muitas vezes, transformam escolas em grandes fortalezas, na tentativa de manter atrás de seus muros os agentes externos. De maneira semelhante, regras rígidas e disciplinadoras são utilizadas para controlar as ações internas escolares.


Gianei (2003) complementa que a violência por parte da escola evidencia-se nas práticas disciplinares que visam à padronização, à neutralidade das diferenças individuais, conduzindo à submissão e à adaptação. Confirma-se assim que a escola, como parte da sociedade, recebe a violência vinda de fora, mas também a gera nas relações que ali se estabelecem.
Durante o processo de leitura, entrevista, visita e síntese, percebemos que, em geral, os alunos vitimados não dispõem de recursos, status ou habilidade para reagir ou cessar o bullying. Geralmente, é pouco sociável, inseguro e desesperançado quanto à possibilidade de adequação ao grupo. Sua baixa auto-estima é agravada por críticas dos adultos sobre a sua vida ou comportamento, dificultando a possibilidade de ajuda. Tem poucos amigos, é passivo, retraído, infeliz e sofre com a vergonha, medo, depressão e ansiedade. Em alguns casos, notamos que sua auto-estima pode estar tão comprometida que acredita ser merecedor dos maus-tratos sofridos. Percebemos ainda que o tempo e a regularidade das agressões contribuem fortemente para o agravamento dos efeitos. Outros criam resistência ao ambiente escolar, prevenindo-se contra novas e possíveis agressões.


Algumas condições familiares adversas parecem favorecer o desenvolvimento da agressividade nas crianças. Pode-se identificar a desestruturação familiar, o relacionamento afetivo pobre, o excesso de tolerância ou de permissividade e a prática de maus-tratos físicos ou explosões emocionais como forma de afirmação de poder dos pais.
Fatores individuais também influem na adoção de comportamentos agressivos: hiperatividade, impulsividade, distúrbios comportamentais, dificuldades de atenção, baixa inteligência e desempenho escolar deficiente. Quanto ao autor de bullying é tipicamente popular; tende a envolver-se em uma variedade de comportamentos anti-sociais; pode mostrar-se agressivo inclusive com os adultos; é impulsivo; vê sua agressividade como qualidade; tem opiniões positivas sobre si
mesmo; é geralmente mais forte que seu alvo; sente prazer e satisfação em dominar, controlar e causar danos e sofrimentos a outros. Além disso, pode existir um "componente benefício" em sua conduta, como ganhos sociais e materiais. São menos satisfeitos com a escola e a família, mais propensos à evasão escolar e têm uma tendência maior para apresentarem comportamentos de risco (consumir tabaco, álcool ou outras drogas, portar armas, brigar, etc).
A maioria dos alunos não se envolve diretamente em atos de bullying e geralmente se cala por medo de ser a "próxima vítima", por não saberem como agir e por descrerem nas atitudes da escola. Esse clima de silêncio pode ser interpretado pelos autores como afirmação de seu poder, o que ajuda a acobertar a prevalência desses atos, transmitindo uma falsa tranqüilidade aos adultos.


Prejuízos financeiros e sociais causados pelo bullying atingem também as famílias, as escolas e a sociedade em geral. As crianças e adolescentes que sofrem e/ou praticam bullying podem vir a necessitar de múltiplos serviços, como saúde mental, justiça da infância e adolescência, educação especial e programas sociais.
O comportamento dos pais dos alunos alvo pode variar da descrença ou indiferença a reações de ira ou inconformismo contra si mesmos e a escola. O sentimento de culpa e incapacidade para debelar o bullying contra seus filhos passa a ser a preocupação principal em suas vidas, surgindo sintomas depressivos e influenciando seu desempenho no trabalho e nas relações pessoais. A negação ou indiferença da direção e professores pode gerar desestímulo e a sensação de que não há preocupação pela segurança dos alunos.
Por fim, o envolvimento de professores, funcionários, pais e alunos é fundamental para a implementação de projetos de redução do bullying. A participação de todos os envolvidos no processo visa estabelecer normas, diretrizes e ações coerentes. As ações devem priorizar a conscientização geral; o apoio às vítimas de bullying, fazendo com que se sintam protegidas; a conscientização dos agressores sobre a incorreção de seus atos e a garantia de um ambiente escolar sadio e seguro.


Bibliografia:
FANTE, Cleo. Fenômeno Bullying: Como prevenir a violência nas escolas para a paz. São Paulo: Verus, 2005.
GIANEI, Cristina Possato. A Violência Escolar: um olhar dos diretores. 1ª Conferência do Observatório de Violência nas Escolas. Brasília: 2003. Disponível em CD.
ORTEGA, Ruiz, R. (1998). “Intervención educativa. El Proyeto Sevilla Anti–Violencia Escolar”. Cuadernos de Pedagogia, Nº 270, Junio,
PORTILHO, Renata, entrevista concedida a Renilza Caldas e Raquel Picorone, Et. al. Brasília. 17 de Novembro de 2009.


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