segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Resenha...

Bullyng, que bicho é esse?


Esta resenha diz respeito a uma discussão sobre violência nas escolas, mais especificamente sobre o fenômeno bullyng. O campo de observação foram os alunos do 5° ao 9° ano do turno vespertino, da Escola La Salle – Brasília. Para fundamentar esse trabalho, o grupo recorreu principalmente a três importantes autores que, com autoridade, tem contribuído, na elaboração de ações preventivas e interventivas sobre a identificação e possíveis resoluções do problema: Fante (2005), Ortega Ruiz (1998) e Gianei (2003). Recorreu-se ainda, através de entrevista, à psicopedagoga, Renata Portilho, professora na escola supracitada.

A violência protagonizada pela comunidade escolar é uma realidade atual. Esse fato desafia a própria escola junto com o corpo docente e a comunidade local, a se organizar e insurgir-se ativamente contra este fenômeno, para que possa mudar a realidade do individuo, através de conteúdos programáticos e acercar-se mais dos alunos, tornando-os mais sociáveis e menos isolados. Verifica-se que hoje muitos dos adolescentes e jovens são constantemente atingidos por um tipo de violência muito comum no ambiente escolar, o fenômeno Bullying. Para o seu enfrentamento, torna-se necessário mais que sua identificação no ambiente escolar. É fundamental que se elabore ações preventivas e interventivas sobre a identificação do problema.

Segundo Fante,


“O termo Bullying é utilizado na literatura psicológica anglo-saxônica para designar um conjunto de comportamentos agressivos, repetitivos e intencionais, adotado por um ou mais indivíduos contra outras pessoas. Não existe uma motivação evidente para esse comportamento, que causa dor, angústia e sofrimento às vítimas.” (Fante, 2003, p. 27)

Quando se aborda a violência contra crianças e adolescentes e a vinculamos aos ambientes onde ela ocorre, a escola surge como um espaço ainda pouco explorado, principalmente com relação ao comportamento agressivo existente entre os próprios estudantes. A violência nas escolas é um problema social grave e complexo e, provavelmente, o tipo mais freqüente e visível da violência juvenil.O termo "Bullying" diz respeito a todos os comportamentos agressivos e anti-sociais, incluindo os conflitos interpessoais, danos ao patrimônio, atos criminosos, etc. Muitas dessas situações dependem de fatores externos, cujas intervenções podem estar além da competência e capacidade das entidades de ensino e de seus funcionários. Porém, a solução possível pode ser obtida no próprio ambiente escolar. A esse respeito, afirma Renata:


“ (...) conversamos individualmente, depois a conversa passa a ser em grupo para que haja confronto não dando espaço para mentiras. Quando isto não é suficiente, convoca-se os pais e conscientiza-os do problema, mostrando os prejuízos emocionais e psicológicos que a vítima e agressor passam, indicando um profissional da psicologia para ajudá-lo”. (...........)


Os comportamentos violentos, que causam tanta preocupação e temor, resultam da interação entre o desenvolvimento individual e os contextos sociais, como a família, a escola e a comunidade. Infelizmente, o modelo do mundo exterior é reproduzido nas escolas, fazendo com que essas instituições deixem de ser ambientes seguros, modulados pela disciplina, amizade e cooperação, e se transformem em espaço onde há violência, sofrimento e medo.


O que faz com que um aluno exerça Bullying? Muitas vezes a raiz do problema não se centra na educação. O jovem apresenta problemas que deveriam ser direcionados para a saúde mental infantil e adolescente, para a proteção social ou até judicialmente. O cerne da questão é que muitas escolas, ao contrário do que teoricamente afirma Renata, tentam resolver os problemas para os quais não estão preparadas e que não são da sua competência. Na verdade, todos os alunos são potencialmente violentos, sendo a escola sentida como uma imposição por parte da família ou do Estado. Os alunos estão contrafeitos, as aulas são para eles locais de constrangimento e de repressão de desejos. Alguns alunos conformam-se e conseguem permanecer na escola sem fazerem grandes distúrbios. Outros se revoltam, colocando em causa as normas estabelecidas, a autoridade, e insurgem-se contra os professores e colegas como ato de poder e robustez física.


Numa visão geral, a violência, é um fenômeno complexo e múltiplo. Há violência que são ocasionais outras que são permanentes, e elas dependem, como já dissemos, tanto das condições internas quanto externas da escola.Para Ortega Ruiz, (1998), violência na escola tem sido um assunto obscuro, não só pela sua difícil compreensão, como pelo fato de muitas das facetas da violência que ocorre na escola não serem bem conhecidas dos professores. A maior parte dela se passa na relação interpessoal aluno-aluno . É, contudo, um pequeno grupo de entre eles que é “responsável” pela violência que se observa em cada escola. Apesar disso, muitas crianças e adolescentes vêem-se confrontados frequentemente no seu cotidiano escolar com situações de agressividade, com as quais não sabem lidar e que, por vezes, afetam decisivamente o seu percurso escolar, o seu bem-estar e o seu processo de desenvolvimento pessoal e social.
Há que se ressaltar ainda que os problemas relacionados à violência na realidade escolar elevam-se continuamente e se apresentam com diversas roupagens. Manifestações violentas, muitas vezes, transformam escolas em grandes fortalezas, na tentativa de manter atrás de seus muros os agentes externos. De maneira semelhante, regras rígidas e disciplinadoras são utilizadas para controlar as ações internas escolares.


Gianei (2003) complementa que a violência por parte da escola evidencia-se nas práticas disciplinares que visam à padronização, à neutralidade das diferenças individuais, conduzindo à submissão e à adaptação. Confirma-se assim que a escola, como parte da sociedade, recebe a violência vinda de fora, mas também a gera nas relações que ali se estabelecem.
Durante o processo de leitura, entrevista, visita e síntese, percebemos que, em geral, os alunos vitimados não dispõem de recursos, status ou habilidade para reagir ou cessar o bullying. Geralmente, é pouco sociável, inseguro e desesperançado quanto à possibilidade de adequação ao grupo. Sua baixa auto-estima é agravada por críticas dos adultos sobre a sua vida ou comportamento, dificultando a possibilidade de ajuda. Tem poucos amigos, é passivo, retraído, infeliz e sofre com a vergonha, medo, depressão e ansiedade. Em alguns casos, notamos que sua auto-estima pode estar tão comprometida que acredita ser merecedor dos maus-tratos sofridos. Percebemos ainda que o tempo e a regularidade das agressões contribuem fortemente para o agravamento dos efeitos. Outros criam resistência ao ambiente escolar, prevenindo-se contra novas e possíveis agressões.


Algumas condições familiares adversas parecem favorecer o desenvolvimento da agressividade nas crianças. Pode-se identificar a desestruturação familiar, o relacionamento afetivo pobre, o excesso de tolerância ou de permissividade e a prática de maus-tratos físicos ou explosões emocionais como forma de afirmação de poder dos pais.
Fatores individuais também influem na adoção de comportamentos agressivos: hiperatividade, impulsividade, distúrbios comportamentais, dificuldades de atenção, baixa inteligência e desempenho escolar deficiente. Quanto ao autor de bullying é tipicamente popular; tende a envolver-se em uma variedade de comportamentos anti-sociais; pode mostrar-se agressivo inclusive com os adultos; é impulsivo; vê sua agressividade como qualidade; tem opiniões positivas sobre si
mesmo; é geralmente mais forte que seu alvo; sente prazer e satisfação em dominar, controlar e causar danos e sofrimentos a outros. Além disso, pode existir um "componente benefício" em sua conduta, como ganhos sociais e materiais. São menos satisfeitos com a escola e a família, mais propensos à evasão escolar e têm uma tendência maior para apresentarem comportamentos de risco (consumir tabaco, álcool ou outras drogas, portar armas, brigar, etc).
A maioria dos alunos não se envolve diretamente em atos de bullying e geralmente se cala por medo de ser a "próxima vítima", por não saberem como agir e por descrerem nas atitudes da escola. Esse clima de silêncio pode ser interpretado pelos autores como afirmação de seu poder, o que ajuda a acobertar a prevalência desses atos, transmitindo uma falsa tranqüilidade aos adultos.


Prejuízos financeiros e sociais causados pelo bullying atingem também as famílias, as escolas e a sociedade em geral. As crianças e adolescentes que sofrem e/ou praticam bullying podem vir a necessitar de múltiplos serviços, como saúde mental, justiça da infância e adolescência, educação especial e programas sociais.
O comportamento dos pais dos alunos alvo pode variar da descrença ou indiferença a reações de ira ou inconformismo contra si mesmos e a escola. O sentimento de culpa e incapacidade para debelar o bullying contra seus filhos passa a ser a preocupação principal em suas vidas, surgindo sintomas depressivos e influenciando seu desempenho no trabalho e nas relações pessoais. A negação ou indiferença da direção e professores pode gerar desestímulo e a sensação de que não há preocupação pela segurança dos alunos.
Por fim, o envolvimento de professores, funcionários, pais e alunos é fundamental para a implementação de projetos de redução do bullying. A participação de todos os envolvidos no processo visa estabelecer normas, diretrizes e ações coerentes. As ações devem priorizar a conscientização geral; o apoio às vítimas de bullying, fazendo com que se sintam protegidas; a conscientização dos agressores sobre a incorreção de seus atos e a garantia de um ambiente escolar sadio e seguro.


Bibliografia:
FANTE, Cleo. Fenômeno Bullying: Como prevenir a violência nas escolas para a paz. São Paulo: Verus, 2005.
GIANEI, Cristina Possato. A Violência Escolar: um olhar dos diretores. 1ª Conferência do Observatório de Violência nas Escolas. Brasília: 2003. Disponível em CD.
ORTEGA, Ruiz, R. (1998). “Intervención educativa. El Proyeto Sevilla Anti–Violencia Escolar”. Cuadernos de Pedagogia, Nº 270, Junio,
PORTILHO, Renata, entrevista concedida a Renilza Caldas e Raquel Picorone, Et. al. Brasília. 17 de Novembro de 2009.


História em Quadrinhos

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Charge : Bullying

Essa prática, cada vez mais frequente, pode causar sérios danos emocionais em uma criança!
A rejeição, que leva à tristeza, que gera o isolamento, se não tomada as medidas necessárias, pode mudar para sempre a vida desta criança.


Vídeo: Bullying

Vídeo: Bullying

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Entrevista: Bullying no ambiente escolar na Escola La Salle de Aguas Claras

Entrevista com a Coordenadora Pedagógica e Psicopedagoga do 2º ao 5º ano do ensino fundamental da Escola La Salle de Aguas Claras,
Renata Loeffler R. Portilho.

O que significa Bullying?

Renata
Violência física ou psicológica, atos de humilhaçao, zombaria, deboche, implicancia com determinadas caracteristicas de uma pessoa, comportamento agressivo, repetitivos e intencionais.

Existe uma faixa etária em que esses casos são mais comuns?
Não, acontece em todas as faixas etárias, do infantil ao ensino médio, a diferença é que do 5º ao 9° ano eles se defendem melhor...

Como identificar uma criança que está sendo vítima do Bullying?
Ela se isola, não se expõe nos momentos das brincadeiras coletivas, fica mais próxima da professora e nao sai nos intervalos preferindo ficar sozinho. Outra caracteristica é ela se tornar o agressor, para se defender ele começa a agredir.

Quando uma criança passa a ser o agressor?
O Bullying também acontece no ambiente familiar e isso forma a percepçao da criança e ele passa a se enxergar na ótica da crítica feita, a partir disso ele passa a observar as dificuldades que cada um possui e usa essas diferenças para agredir.

Como o educador da escola La Salle atua quando identifica esse tipo de comportamento?
Chamando os envolvidos e conversando individualmente, depois a conversa passa a ser em grupo para que haja confronto não dando espaço para mentiras. Quando isto nao é suficiente convoca-se os pais e conscientiza-os do problema, mostrando os prejuízos emocionais e psicologicos que a vítima e agressor passam, indicando um profissional da psicologia para ajuda-lo.

Quais os efeitos causados no aluno na questão pedagógica?
O rendimento escolar do aluno cai passando a apresentar dificuldades em conteúdos antes dominados, fica muito introspectivo, tímido, nao participando mais das atividades.

Os professores são orientados e educados para lidar com este problema participando de palestras com orientadores capacitados como Cleo Fante

Entrevista realizada no dia 12/11/2009 na Escola La Salle de Aguas Claras
Por: Raquel Picorone, Renilza Reis e Celio Amaro

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Entrevista : Cleo Fante para colegio CIMAN

Em entrevista para o Caderno CIMAN, Cleo Fante traça um perfil comportamental dos personagens envolvidos no Fenômeno Bullying.

Caderno CIMAN O que significa o termo Bullying?
Cleo Fante
O termo Bullying é utilizado na literatura
psicológica anglo-saxônica para designar um conjunto
de comportamentos agressivos, repetitivos e
intencionais, adotado por um ou mais indivíduos
contra outras pessoas. Não existe uma motivação
evidente para esse comportamento, que causa dor,
angústia e sofrimento às vítimas.

Como distinguir uma brincadeira inofensiva de
outra que possa provocar traumas, considerando as
reações adversas das pessoas?
Cleo Fante
As brincadeiras são feitas de maneira natural entre os
alunos. Porém, quando elas ganham um toque de
maldade e extrapolam os limites suportáveis
que variam de acordo com a história intrapsíquica
de cada indivíduo __ a vítima tende ao
retraimento, ao rebaixamento da auto-estima, ao
isolamento e à desmotivação para os estudos.

Quem é o alvo predileto do agressor? Existe
uma faixa etária em que esses casos sejam
mais comuns?
Cleo Fante
Geralmente o alvo são aqueles com diferenças no
aspecto físico, psicológico ou intelectual; os
tímidos, retraídos, passivos, submissos, ansiosos,
temerosos, com dificuldades de defesa, de
expressão e de relacionamento. Ou quem é
gordo, baixo, magro, alto demais ou tem nariz e
orelhas grandes, tipo e cor de cabelos diferentes. O
comportamento Bullying pode ser identificado em
qualquer faixa etária e nível de escolaridade. Entre
crianças de 3 e 4 anos, já podemos perceber o
comportamento abusivo, manipulador, dominador
de uns e, por outro lado, passivo, submisso, indefeso
de outros. Porém, a maior incidência está entre os
alunos de 4ª a 8ª séries, período em que os papéis se
definem com maior clareza.

Quais são os efeitos do Bullying sobre o aluno
Cleo Fante
O aluno se isola dos demais e se sente impotente
ante os ataques, o que compromete a auto-estima e a
autoconfiança. Como conseqüência, tende a
apresentar tensão, irritação e agressividade e a fazer
uso de substâncias químicas. Apresenta sintomas
psicossomáticos diversificados, principalmente na
hora de ir para a escola __ como dor de cabeça e de
estômago, tontura, vômito, diarréia, sudorese,
taquicardia.

As crianças têm consciência de que estão sendo
agressivas?
Cleo Fante
Muitas crianças agem inconscientemente,
reproduzindo contra os outros os maus-tratos
sofridos em decorrência do modelo educativo
predominante na primeira infância. Por outro lado,
elas não têm maturidade para avaliar todas as
conseqüências dos seus atos e podem agir com
requintes de crueldade. O que considero relevante é
o fato de que a maioria dos alunos, os chamados
espectadores __ aqueles que não sofrem nem
praticam Bullying __ não faz nada para defender os
colegas que são vítimas. Muitos dão risada,
incentivam e valorizam os agressores, aumentando
ainda mais sua popularidade.

O que leva uma pessoa a ter atitudes Bullying?
Cleo Fante
As causas são inúmeras: carência afetiva, ausência
de limites, exposição repetitiva a cenas de violência,
modelo de afirmação dos pais sobre os filhos por
m a u s - t r a t o s e e x p l o s õ e s e m o c i o n a i s ,
permissividade, ausência de modelos educativos
baseados em valores humanistas capazes de
orientar a vida para uma convivência de paz,
solidariedade, respeito, tolerância, amizade e
cooperação.

Como identificar uma criança ou adolescente que
está sendo vítima de um agressor Bullying?
CleoFante
Os primeiros sinais são o isolamento ou a exclusão do
grupo; a queda da auto-estima e do rendimento
escolar; o desinteresse pela escola e pelas aulas.
Quando os ataques não são abertos, ou seja, se
utilizam da linguagem corporal, expressões faciais,
gestos, risadas ou olhares, é ainda mais difícil a
identificação. Geralmente, a vítima se cala com medo
de represálias ou vergonha de expor seus
sentimentos. Muitas crianças preferem apanhar todos
os dias a tocar no assunto e admitir que precisam de
ajuda.

Como o educador pode atuar quando identifica
esse tipo de comportamento?
Cleo Fante
Em primeiro lugar, certificando-se de que o caso
obedece aos critérios estabelecidos para a
identificação de Bullying. Há uma tendência a
generalizar ou banalizar o tema, atribuindo ao Bullying
qualquer atitude negativa. Em caso afirmativo, ele
deve verificar as conseqüências para a vítima. O ideal é
que se converse individualmente, ouvindo cada uma
das partes envolvidas, para buscar soluções.

Como envolver a família nesse processo?
Cleo Fante
A família deve ser preparada para observar o
comportamento da criança e manifestar qualquer
sinal de alteração. A troca de informações entre família
e escola é indispensável para a identificação e a
interrupção desse comportamento. Devemos oferecer
à criança um ambiente saudável, para que ela fale de
suas experiências dentro e fora da escola, seus
relacionamentos, sentimentos e emoções, sem
críticas, comparações e estímulos ao revide.

A Síndrome da humilhação

Palavra que entrou no cotidiano desde a última década, o Bullying é na verdade uma forma de aplicação de atos de humilhação, sendo utilizados para isso atos físicos ou psicológicos. As marcas deixadas pelas agressões físicas são conhecidas por todos. Podem deixar desde um simples arranhão, até seqüelas permanentes. Já o lado psicológico da humilhação, apesar de estudado durante décadas, ainda não teve um parecer conclusivo.
Entre outras emoções e sintomas podem ser considerados conseqüências de humilhações sofridas ao longo da vida a baixa auto-estima, angústia, tristeza, depressão, irritabilidade, instabilidade emocional, pânico e raiva.
A humilhação está estreitamente vinculada ao sentimento de inferioridade existente em todo ser humano. Se um indivíduo se sente humilhado é porque alguém, através de algum ato o fez sentir-se inferior
.
Este sentimento de inferioridade é parte integrante dos conteúdos inconscientes de nossa formação. O herdamos arquetipicamente e é, geralmente, renovado através de nossa socialização, e das experiências no decorrer da vida.
Para muitas pessoas é necessário colocar o outro na situação inferior, em desvantagem, para que eles mesmos possam se sentir grandes, importantes.
Quando lançamos mão deste terrível instrumento estamos falando da humilhação, ou como alguns preferem chamar, Bullying.
O objetivo da humilhação tem como principal característica a destruição moral daquele que a sofre. Se existe uma situação onde a dor emocional do homem é percebida com facilidade é através da humilhação, pois nela o indivíduo se vê exposto e a vergonha toma conta de seu ser.
Todos nós possuímos um lado da personalidade sobre o qual não nos atrevemos a falar ou expor. É onde encontramos aquelas qualidades que julgamos negativas, indesejadas. Esforçamo-nos muito, ao longo da vida, para escondê-las, mas na humilhação serão justamente aspectos deste lado sombrio que ficará evidenciado.
Quando a humilhação é constante a pessoa que a sofre perde a identidade porque ela mesma e os demais a reconhecerão somente através daquela característica negativa que está sendo focada, como se a pessoa fosse somente aquele lado negativo. A parte se incumbirá de determinar o todo.
O respeito e amor próprio ficam totalmente prejudicados e a própria pessoa se colocará em posição de humildade, carregando um forte sentimento de culpa, por possuir aquela qualidade julgada negativa.
Na maioria das relações humanas defrontamo-nos, diariamente, com a humilhação nas formas mais sutis, porém, nem por isso, ela é menos perversa, incluindo-se aquelas onde é entendida como método apropriado de educação.
A humilhação sofrida na infância, como forma de educar é uma das piores formas de traição que o ser humano pode sofrer. A criança não tem capacidade de reflexão e análise para entender que o adulto que a humilha está tentando exorcizar seu próprio sentimento de inferioridade, e, que ela não é somente aquele lado ruim. Levará anos para que uma criança que teve como método educativo a humilhação consiga se refazer do estrago causado em sua personalidade.
Encontramos também, a humilhação como forma de repressão e condicionamento em diversas instituições como nas prisões, exércitos, escolas, empresas, e nos mais diversos grupos sociais.
Há pessoas que fazem do ato de humilhar um hábito, pois é através desta condição que conseguem diminuir a angústia causada pelo próprio sentimento de inferioridade. Quando não conseguimos ver o inimigo dentro de nós o projetamos fora e guerreamos com ele.
A projeção é uma qualidade inerente no ser humano e acontece diariamente durante toda a vida e aparece em nossos relacionamentos com o mundo externo. É o processo pelo qual uma qualidade inconsciente da pessoa é percebida em outra pessoa ou objeto externo. Por ser inconsciente esta qualidade, e podendo ser negativa ou positiva, ela é projetada sem qualquer controle do nosso ego, não escolhendo o que nem onde iremos projetar aquele conteúdo.
Durante este processo vemos aquela determinada característica que nos pertence, mas que não a vemos em nós, como uma qualidade específica daquela outra pessoa e logo procuramos apontá-la porque nos incomoda imediatamente.
Este mecanismo, de projeção, não é diferente no caso de humilhação. Aquele que humilha o outro, apontando nele alguma inferioridade ou característica mais fraca, fazendo com que aqueles “defeitos” fiquem em evidência, nada mais faz do que apontar no outro seu próprio lado indesejado e sombrio. É através da projeção que se tem início a produção dos efeitos devastadores da humilhação
.
O BULLYING E AS SUAS CONSEQÜÊNCIAS PSICOLÓGICAS
Na atualidade, um dos temas que vem despertando cada vez mais, o interesse de profissionais das áreas de educação e saúde, em todo o mundo, é sem dúvida, o do bullying escolar. Termo encontrado na literatura psicológica anglo-saxônica, que conceitua os comportamentos agressivos e anti-sociais, em estudos sobre o problema da violência escolar.
Sem termo equivalente na língua portuguesa, define-se universalmente como “um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas, adotado por um ou mais alunos contra outro(s), causando dor, angústia e sofrimento”. Insultos, intimidações, apelidos cruéis e constrangedores, gozações que magoam profundamente, acusações injustas, atuação de grupos que hostilizam, ridicularizam e infernizam a vida de outros alunos, levando-os à exclusão, além de danos físicos, psíquicos, morais e materiais, são algumas das manifestações do comportamento bullying.
O bullying é um conceito específico e muito bem definido, uma vez que não se deixa confundir com outras formas de violência. Isso se justifica pelo fato de apresentar características próprias, dentre elas, talvez a mais grave, seja a propriedade de causar “traumas” ao psiquismo de suas vítimas e envolvidos. Possui ainda a propriedade de ser reconhecido em vários outros contextos, além do escolar: nas famílias, nas forças armadas, nos locais de trabalho (denominado de assédio moral), nos asilos de idosos, nas prisões, nos condomínios residenciais, enfim onde existem relações interpessoais.
Estudiosos do comportamento bullying entre escolares identificam e classificam assim os tipos de papéis sociais desempenhados pelos seus protagonistas: “vítima típica”, como aquele que serve de bode expiatório para um grupo; “vítima provocadora”, como aquele que provoca determinadas reações contra as quais não possui habilidades para lidar; “vítima agressora”, como aquele que reproduz os maus-tratos sofridos; “agressor”, aquele que vitimiza os mais fracos; “espectador”, aquele que presencia os maus-tratos, porém não o sofre diretamente e nem o pratica, mas que se expõe e reage inconscientemente a sua estimulação psicossocial.
Trata-se de um problema mundial, encontrado em todas as escolas, que vem se disseminado largamente nos últimos anos e que só recentemente vem sendo estudado em nosso país. Em todo o mundo, as taxas de prevalência de bullying, revelam que entre 5% a 35% dos alunos estão envolvidos no fenômeno. No Brasil, através de pesquisas que realizamos, inicialmente no interior do estado de São Paulo, em estabelecimentos de ensino públicos e privados, com um universo de 1.761 alunos, comprovamos que 49% dos alunos estavam envolvidos no fenômeno. Desses, 22% figuravam como “vítimas”; 15% como “agressores” e 12% como “vítimas-agressoras”.
Segundo especialistas, as causas desse tipo de comportamento abusivo são inúmeras e variadas. Deve-se à carência afetiva, à ausência de limites e ao modo de afirmação de poder e de autoridade dos pais sobre os filhos, por meio de “práticas educativas” que incluem maus-tratos físicos e explosões emocionais violentas. Em nossos estudos constatamos que 80% daqueles classificados como “agressores”, atribuíram como causa principal do seu comportamento, a necessidade de reproduzir contra outros os maus-tratos sofridos em casa ou na escola. Em decorrência desse dado extremamente relevante, nos motivamos em pesquisas e estudos, que nos possibilitou identificar a existência de uma doença psicossocial expansiva, desencadeadora de um conjunto de sinais e sintomas, a qual denominamos SMAR - Síndrome de Maus-tratos Repetitivos.
O portador dessa síndrome possui necessidade de dominar, de subjugar e de impor sua autoridade sobre outrem, mediante coação; necessidade de aceitação e de pertencimento a um grupo; de auto-afirmação, de chamar a atenção para si. Possui ainda, a inabilidade de expressar seus sentimentos mais íntimos, de se colocar no lugar do outro e de perceber suas dores e sentimentos.
Esta Síndrome apresenta rica sintomatologia: irritabilidade, agressividade, impulsividade, intolerância, tensão, explosões emocionais, raiva reprimida, depressão, stress, sintomas psicossomáticos, alteração do humor, pensamentos suicidas. É oriunda do modelo educativo predominante introjetado pela criança na primeira infância. Sendo repetidamente exposta a estímulos agressivos, aversivos ao seu psiquismo, a criança os introjeta inconscientemente ao seu repertório comportamental e transforma-se posteriormente em uma dinâmica psíquica “mandante” de suas ações e reações. Dessa forma, se tornará predisposta a reproduzir a agressividade sofrida ou a reprimi-la, comprometendo, assim, seu processo de desenvolvimento social.
As conseqüências para as “vítimas” desse fenômeno são graves e abrangentes, promovendo no âmbito escolar o desinteresse pela escola, o déficit de concentração e aprendizagem, a queda do rendimento, o absentismo e a evasão escolar. No âmbito da saúde física e emocional, a baixa na resistência imunológica e na auto-estima, o stress, os sintomas psicossomáticos, transtornos psicológicos, a depressão e o suicídio.
Para os “agressores”, ocorre o distanciamento e a falta de adaptação aos objetivos escolares, a supervalorização da violência como forma de obtenção de poder, o desenvolvimento de habilidades para futuras condutas delituosas, além da projeção de condutas violentas na vida adulta. Para os “espectadores”, que é a maioria dos alunos, estes podem sentir insegurança, ansiedade, medo e estresse, comprometendo o seu processo socioeducacional.
Dependendo do grau de sofrimento vivido pela criança, ela poderá sentir-se ancorada a construções inconscientes de pensamentos de vingança e de suicídio, ou manifestar determinados tipos de comportamentos agressivos ou violentos, prejudiciais a si mesma e à sociedade, isto se não houver intervenção diagnóstica, preventiva e psicoterápica, além de esforços interdisciplinares conjugados, por toda a comunidade escolar.
Esta forma de violência é de difícil identificação por parte dos familiares e da escola, uma vez que a “vítima” teme denunciar os seus agressores, por medo de sofrer represálias e por vergonha de admitir que está apanhando ou passando por situações humilhantes na escola ou, ainda, por acreditar que não lhe darão o devido crédito. Sua denúncia ecoaria como uma confissão de fraqueza ou impotência de defesa.
Os “agressores” se valem da “lei do silêncio” e do terror que impõem às suas “vítimas”, bem como do receio dos “espectadores”, que temem se transformarem na “próxima vítima”.
Se você souber que alguém sofre este tipo de violência,
DENUNCIE!!!